Cielo - céu em italiano e espanhol - foi o escolhido para nomear a liberdade do azul da Velocette. Para voltar no tempo, um tom vintage em um desenho clássico.
Por ter o menor comprimento de onda, é a luz azul a mais dispersa pelas minúsculas moléculas presentes na atmosfera durante o dia. Por isso vemos o céu na cor azul. Mas nem sempre foi assim.
Estudos indicam que ninguém enxergava a cor azul até os tempos modernos. Como é? Isso mesmo! Leia a tradução de Carol T. More, do Follow de Colours do interessante artigo de Kevin Loria para Business Insider:
Essa é uma história sobre a maneira que os seres humanos vêem o mundo e sobre como enxergamos as cores. Você sabia que até relativamente pouco tempo na história da humanidade, o azul não existia? Não da maneira que enxergamos hoje.
Estudos mostram que línguas antigas não tinham uma palavra para designar o azul – seja em grego, chinês, japonês, hebraico. E sem uma palavra para descrever uma cor, ficou evidente em uma pesquisa, que ninguém a enxergava. Tudo começou com uma leitura do famoso livro “A Odisséia” de Homero. O autor descreve o mar “cor de vinho”. Mas por quê cor de vinho e não um azul escuro ou um verde?
Em 1858, um estudioso político chamado William Gladstone, notou que esta não era a única descrição estranha sobre a cor nas publicações. Embora o poeta Homero passe páginas e páginas falando sobre detalhes de roupas, armaduras, armas, rostos, animais, e etc, suas referências eram incomuns. Para ele, ferro e ovelhas são violeta, o mel é verde.
Gladstone decidiu então, observar outras referências sobre as cores no livro. O preto é mencionado quase 200 vezes e o branco cerca de 100, a aparição de outros tons são raros. O vermelho aparece menos de 15 vezes, o amarelo e verde menos de 10. Gladstone começou então a olhar para outros textos gregos antigos e percebeu que não havia nada que descrevesse o “azul”. Nem sequer a palavra existia.
Ele pensou que isso acontecia apenas naquela civilização, mas o filólogo Lazarus Geiger acompanhou Gladstone em seus estudos e notou que era em todas as culturas.
Os dois estudaram sagas islandesas, o Alcorão, histórias chinesas e até uma antiga versão hebraica da Bíblia. Sobre os hindus, ele escreveu: “Esses hinos, que tem mais de dez mil linhas, estão cheios de descrições do céu, mas eles evocam com frequência o sol, a vermelhidão da aurora da cor, o dia e a noite, falam sobre nuvem, relâmpago, ar e éter, mas há uma coisa que ninguém nunca aprendeu em tese, que o céu é azul.”
Não havia azul. A cor era relacionada com os tons verdes ou mais escuros. Geiger então foi atrás para saber quando o “azul” começou a aparecer e encontrou um estranho padrão em todo o mundo.
Toda língua tinha tido primeiramente, uma expressão para o preto e o branco, a escuridão e a luz. A próxima palavra foi vermelho, cor do sangue e do vinho. Depois historicamente aparece o amarelo, e, mais tarde o verde. A última das cores é o azul. Descobriram também que a única cultura que desenvolveu na época, uma palavra para o azul eram os egípcios – os primeiros a produzir esses corantes.
Se você realmente parar para pensar, o azul realmente não aparece muito na natureza. Quase não há animais azuis (a não ser borboletas e algumas aves), olhos azuis são escassos, comidas nunca são dessa cor, e as flores azuis são na sua maioria criações humanas. Há, é claro, o céu, mas ele é realmente azul? Geiger diz que mesmo as escrituras antigas que falam sobre os céus, não necessariamente o viam como “azul”.
Recentemente, o pesquisador Guy Deutscher tentou fazer um experimento com a sua filha sobre isso. Já que as primeiras perguntas que as crianças fazem quando crescem é “Por que o céu é azul?”, ele teve muito cuidado para nunca descrever a cor do céu para sua filha. Um dia perguntou despretensiosamente o que ela via quando olhava para cima. A filha de Deutscher não tinha ideia. O céu era incolor para ela. Eventualmente, ela decidiu que era branco, e mais tarde, disse ser azul. Não foi a primeira cor que ela via, mas foi o tom estabelecido no final.
Então, antes de não termos uma palavra para isso, as pessoas não viam a cor azul? Ele diz: “Essa resposta é um pouco complicada, porque a gente não sabe exatamente o que estava se passando no cérebro de Homero quando ele descreveu o mar cor de vinho e as ovelhas roxas – mas nós sabemos que antigos gregos e outras civilizações não tinham a capacidade de ver a cor como enxergamos hoje”.
Mas a gente realmente vê algo, mesmo não tendo uma palavra que traduza isso? O pesquisador Jules Davidoff viajou para a Namíbia para buscar respostas para essa pergunta, e realizou um teste com a tribo Himba, que fala uma língua na qual não existe uma palavra para o azul, mas que tem muitas descrições para os diferentes tons de verde.
Quando ele mostrou um círculo com 11 quadrados verdes e um azul, eles não conseguiam enxergar a cor diferente. Aqueles que viam a diferença, demoraram muito para fazer isso e erravam várias vezes antes de acertar. Para nós seria fácil, já que claramente enxergamos a cor. Por isso, ao olhar para um círculo com quadrados verdes em que apenas um quadrado era diferente, eles imediatamente o identificavam. Para nós, isso já seria mais difícil.
Você consegue saber qual é o quadrado diferente?
Davidoff diz que sem uma palavra para descrever uma cor, sem uma forma de identificá-la como sendo diferente, é muito mais difícil para percebermos – mesmo se os nossos olhos estão fisicamente vendo os blocos assim. Talvez os humanos já viam a cor azul, mas por não existir um conceito para ele, não associavam o que estavam enxergando.
Eis o quadrado verde diferente. Ele tem um tom mais amarelado.
Se você enxerga algo que ainda não pode descrever, será que então isso existe? Será que as cores passaram a existir ao longo do tempo? Não tecnicamente, mas a nossa capacidade de enxergá-las pode ter se desenvolvido.
Depois de alguns séculos, o azul faz parte da nossa rotina e é impossível viver sem pensar nele. É a cor favorita de 45% das pessoas do mundo, possui 111 tons diferentes nomeados, além de ser associada a calma, simpatia, harmonia e fidelidade. Interessantíssimo, não?